sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Domínio português (1512-1975)

       Os primeiros contatos conhecidos com europeus datam, provavelmente de 1512 a 1520, quando embarcações portuguesas chegaram à ilha. A evangelização figura como o primeiro "marco civilizatório" da colonização. Sob proteção da Coroa portuguesa, frades dominicanos estabeleceram a primeira colônia européia permanente no Timor. No século XVII, os holandeses penetraram nas ilhas da região e expulsaram os portugueses das Ilhas Molucas - produtoras de pimenta, noz-moscada e cravo. Já suplantada por concorrente mais poderoso, apenas algumas ilhas do arquipélago de Sonda, como Flores, Solor e Timor, se mantiveram sob domínio português. Em 1651, os holandeses iniciaram a tomada de Timor organizando um desembarque  em Kupang - parte ocidental da ilha - estendendo gradativamente sua influência pela porção oeste ao longo do século seguinte. Em 1769, procurando garantir-se de um ataque  holandês, os portugueses transferiram a sede administrativa de Ocussi para Dili. Até o final do século XIX a autoridade portuguesa nunca foi forte porque o poder local português era exercido pelos "portugueses negros", mestiços que durante mais de 300 anos desempenharam importante papel na administração e nas relações com o exterior. O imenso interior da ilha continuou durante muito tempo nas mãos dos chefes tribais conhecidos como liurais - "senhores do chão", na língua tétum. 
       Procurando consolidar seu domínio, em 1896, Timor (que era administrado a partir de Macau - possessão portuguesa na costa sul da China) passou a ser colônia distinta, com uma administração própria instalada na ilha, assim permanecendo até 1975 quando, em razão da Revolução dos Cravos em Portugal, foi colocado um ponto final na "saga colonial" portuguesa. Essa iniciativa de consolidação do domínio português não passou despercebida pela população local. Longe de manter-se impassível, o povo maubere resistiu como pôde ao colonialismo através de diversas insurreições. Estas rebeliões acabaram por conduzir "campanhas de pacificação", ações militares que se prolongaram por quase 20 anos (1884/1912). Além da repressão colonial, o Timor-Leste também foi duramente atingido pela Segunda Guerra Mundial (1939-1945), ainda que Portugal tenha adotado posição de neutralidade durante o conflito, forças japonesas e aliadas (holandesas e australianas) transformaram seu território em cenário de violentas batalhas. No decorrer da guerra, centenas de soldados australianos conduziram guerrilhas matando cerca de 1500 japoneses e prendendo os restantes. O êxito dessa operação foi atingido com a ajuda dos timorenses, que pagaram caro pelo apoio prestado aos aliados ocidentais: aldeias foram dizimadas pelos japoneses, além de saques e pilhagens; cerca de 40 mil mauberes  perderam a vida em operações de represália e outros 20 mil, devido à fome e doenças. No pós-guerra a reconstrução do Timor português processou-se lentamente: em 1951, a ilha passou a ser, a exemplo das demais colônias portuguesas na Ásia e na África, uma suposta província ultramarina de Portugal. Nessa condição era considerada pelo salazarismo como parte integrante do Estado português e como as demais, duramente reprimida e economicamente estagnada. Este governo manteve, mesmo no pós-guerra, a estrutura de poder tradicional usada anteriormente constituídas pelos liurais. Estes, embora eventualmente em desacordo ou até mesmo em choque com o poder colonial, contribuíram para a implantação e perpetuação da dominação portuguesa. Somente na década de 1960, os nacionalistas timorenses superaram o isolamento causado pela distância e repressão, conhecendo as lutas dos movimentos de libertação das colônias portuguesas na África. Estudantes timorenses travaram, em Lisboa, contatos com o Partido Africano para a Independência da Guiné e das Ilhas de Cabo Verde (PAIGC), com o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) e com a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), assimilando assim, as experiências destas organizações, procurando adaptá-las a sua realidade. Foi assim, como desdobramento destes contatos, que surgiu a Associação de Timor (ASDT), fundada em maio de 1975, mais tarde rebatizada como Frente Revolucionária do Timor Leste Independente (FRETILIN), a organização que nasceu de um grupo clandestino preocupado em organizar um movimento de libertação anti-português. Seu manifesto original repudiava veementemente o colonialismo e o neocolonialismo. A FRETILIN agrupava a pequena camada  intelectualizada do território, professores, estudantes, funcionários e camadas empobrecidas do meio urbano; foi o único partido a pautar a questão da independência desde sua fundação, conferindo-lhe sólida inserção no meio popular.
       Contrariamente a seus críticos no exterior e no país, o programa da FRETILIN era mais reformista que revolucionário. Sua plataforma previa, por exemplo, reforma agrária (com implantação de cooperativas agrícolas somente  em terras férteis que não estivessem cultivadas); preservação da rede de escolas católicas e da comunidade chinesa coexistindo com uma rede pública e classes especiais de alfabetização; política externa ratificando o não-alinhamento, relações de boa vizinhança e não ingerência nos assuntos internos de países da região. O desenrolar da luta, porém, favoreceu uma visível hegemonia de um setor radical, muito influenciado pelo socialismo de linha chinesa, embora originalmente, tivesse surgido como uma frente nacionalista abrangente, não ideológica, terminou assumindo posições cada vez mais doutrinárias.   Uma corrente de opinião bastante influenciada pela experiência chinesa, liderada por Abílio Araújo, consumou a radicalização ideológica da FRETILIN, transformando-a em partido marxista-leninista em 1977. Assim permaneceu a FRETILIN até a década de 1980, quando retomou suas concepções originais.
       Ao lado da FRETILIN, a União Democrática Timorense (UDT) e a Associação Popular Democrática de Timor (APODETI) eram as outras duas forças políticas mais atuantes no território. Elas também foram organizadas a partir da queda do regime salazarista em Portugal. A UDT era o único partido além da FRETILIN a possuir alguma influência  no Timor-Leste, sendo favorável à manutenção da presença portuguesa. Dentre os participantes da UDT figuravam funcionários da administração colonial, empresários da comunidade chinesa, latifundiários cafeeiros, diversos liurais e a comunidade portuguesa local. Por isso, recebeu encorajamento oficial português nos últimos anos do regime colonial, subvenções e espaço reservado nas emissoras de rádio. Favorável à continuidade das relações com Portugal e a uma autonomia relativa do Timor no "interior de um Estado português multicontinental", passou a defender um processo gradual de independência a partir do enfraquecimento da ideia de uma federação de países de língua portuguesa e por este motivo, por um breve período, manteve uma coalização com a FRETILIN.
       A  APODETI pregava a união do país com a Indonésia. Fundamentava sua posição na convicção de que o país não seria economicamente viável, além de insuficientemente desenvolvido no aspecto político. Salientava que o patrimônio étnico e cultural comum às duas metades da ilha deveria levar à unificação e à integração do Timor-Leste com a vizinha república da Indonésia. Financiada pela Indonésia, não contava com respaldo da população, no máximo, 300  apoiadores. Era o menos influente dos três partidos timorenses e em razão de seu perfil, foi prontamente hostilizada pela FRETILIN, que a via como uma organização ilegal.
       A partir da Revolução dos Cravos em Portugal (1974), ocorreu a desorganização do império colonial português; FRETILIN, APODETI e  UDT constituíram as três principais posições políticas em disputa no Timor-Leste. As demais agremiações políticas, como o KOTA  (Klibur Oan Timur Aswain - partido monarquista que defendia a manutenção dos liurais como dirigentes tradicionais) e o Partido Trabalhista, não constituíam qualquer força política real, pois não reuniam mais que um punhado de militantes. 


fonte: http://amrtimor.gov.org/docs



fonte: http://amrtimor.gov.org/docs

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